segunda-feira, março 15, 2010

terça-feira, outubro 20, 2009

e quando já choravam a nossa morte...

Bom, acabada de chegar dos Alunos de Apolo onde eu e o Andreas fomos eleitos o par-revelação (aqui entre nós que ninguém nos ouve, este nosso amigo, além de excelente artista plástico é um exímio dançarino; eu limitei-me a segui-lo), venho lançar o novo desafio, que já tardava.

Vou conjugar com as minhas aulas de escrita criativa na Companhia do Eu e digo-vos isto:

um objecto e um sentimento de perda

e mais não digo, a não ser que me perguntem

domingo, agosto 16, 2009

anoitecer #4



Peço desculpa, achei que o filme também tinha sido descarregado juntamente com o texto do Adorno...

quarta-feira, julho 29, 2009

Running in the street conveys an impression of terror. The victims fall is already mimed in his attempt to escape it. The position of the head, trying to hold itself up, is that of a drowning man, and the straining face grimaces as if under torture. He has to look ahead, can hardly glance back without stumbling, as if treading the shadow of a foe whose features freeze the limbs. Once people ran from dangers that were too desperate to turn and face, and someone running after a bus unwittingly bears witness to past terror. Traffic regulations no longer need allow for wild animals, but they have not pacified running. It estranges us from bourgeois walking. The truth becomes visible that something is amiss with security, that the unleashed powers of life, be they mere vehicles, have to be escaped. The body's habituation to walking as normal stems from the good old days. It was the bourgeois form of locomotion: physical demythologization, free of the spell of hieratc pacing, roofless wandering, breathless flight. Human dignity insisted on the right to walk, a rythm not extorted from the body by command or terror. The walk, the stroll, were private ways of passing time, the heritage of the feudal promenade in the nineteenth century. (Theodor Adorno)

quarta-feira, julho 15, 2009

#3



22h, Rossio.
Ao fundo, na imagem, uma data de gente trabalhava numas filmagens.
A Alex reconheceu, no meio da equipa, a Soraia Chaves, de cabelo louro.


Respondo tarde ao exercício e com uma imagem mazinha.
Vou ver se consigo fazer mais qualquer coisa e ficar mais perto do anoitecer, porque aqui já é mesmo noite :o)

quarta-feira, julho 08, 2009

#2 - lisbon by twiligth night



[acrílico s/ sketchbook]

segunda-feira, junho 29, 2009

#1 - Anoitecer III

Alyne:



Da minha casa apanho disto... eu sei que ele fazia anos nesse dia,
conheço-o de andar aí pelos bares e restaurantes a vender postais,
cantava nessa noite, celebrava o dia de anos aos berros,
de afirmação, de revolta, e só.
Eram duas ou três da manhã.
Este post poderia ser o último de uma trilogia sobre o tema 'Anoitecer nas ruas da cidade'. Aliás, é.
Decidí agora.
Porque o anoitecer é o limbo recheado de expectativas
e o berço de satisfação e desilusão.


in http://pieceofquiet.blogspot.com/2009/06/anoitecer-iii.html

segunda-feira, junho 15, 2009

#1 - Anoitecer II

Outro trabalho do Alyne



«A ordem inverte-se ao entardecer,
a penúmbra entre as fachadas avança para a suspensão da lei do dia.
Ansiamos a aventura que nos iliba.
Da pose, do protocolo social, do laço cor de rosa.
O passeio deslumbra em antecipação,
a vida paralela pulsa com o sangue.»


in http://pieceofquiet.blogspot.com/2009/06/anoitecer-ii.html

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#1 - Anoitecer

O Andreas já respondeu ao desafio «Nas nossas ruas, ao anoitecer» -



«Contra o desafio deste mês, de qual só me ficou a ideia do anoitecer - na cidade.
Afinal não é na cidade, mas nas ruas da cidade. Falhei no tema, mas a imagem fica na mesma. Porque as pessoas vão à rua vindo de casa, quando vão.

Surgiu -me este rabisco feito já há alguns anos.

À propósito daquele azul a preambular a noite desejada,
bem acompanhada por um encontro inesperado.

O azul do consolo.»



in http://pieceofquiet.blogspot.com/2009/06/anoitecer.html

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quarta-feira, maio 27, 2009

Novo desafio - «Nas nossas ruas, ao anoitecer»

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Novo desafio - «Nas nossas ruas, ao anoitecer».

Faz parte do desafio, o espaço urbano - Lisboa... e o anoitecer, claro :O)
E os dois poemas sobre Lisboa, um de Cesário Verde e outro de Fernando Pinto do Amaral, que passo a transcrever:

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Cesário Verde (1855-1886)


O Sentimento dum Ocidental

A Guerra Junqueiro


Ave Marias


Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba,
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!


in
Lisboa com seus poetas. Colectânea de Poesia sobre Lisboa. Organização de Adosinda Providência Torgal e Clotilde Correia Botelho. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2000, pp. 201-203.


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Fernando Pinto do Amaral (1960-)


Elegia de Lisboa


«Nas nossas ruas, ao anoitecer»,
abre-se num olhar a pena errante
de quem se ilude em passos vagarosos,
em mais um jogo incerto de cem luzes
sob este céu tão baço. Como sempre
os mudos automóveis sobem, descem
ruas e ruas rumo a outras ruas
polvilhadas de gente que regressa
sem ter partido - insectos ondulando
ao som das lentas horas fatigadas,
rostos esfarrapados de trabalhos
inúteis como a tarde que se entrega
às doces mãos secretas do crepúsculo
vibrante no declive dos telhados
em degraus sobre o Tejo. Devagar
cola-se ao espírito a membrana escura
dos sonhos que perdi ou que pedi
há tantos anos à eternidade
e agora se dispersam na colmeia
das pequenas janelas reacesas,
no bafo das famílias indiferentes
no seu «tinir de loiças e talheres»,
suspensas de écranzinhos onde vêem
outras famílias e outras indiferenças
até ao infinito. As sombras crescem
quando a lua aparece e pouco a pouco
a solidão retoma os seus direitos,
devora o que ainda resta do azul
e eu vou descendo a pé, já transformado
num perverso turista acidental
e condenado a «combater em vão
o velho tédio» ocidental, em bares
onde reagem faces conhecidas
em acenos voláteis que se cruzam
com esse aroma surdo e espesso e dócil
das vozes que por vezes me esvaziam
qualquer recordação. Bairro nocturno,
confundo os teus caminhos-labirinto,
os nomes das vielas inconstantes
e ao percorrê-las «temo que me avives
uma paixão» recente, a esvoaçar
ainda não defunta, mas talvez
moribunda por entre a marabunta
que vai enchendo, enxameando as caves
onde se compra e vende cada rosto
e onde mergulho cego e surdo e fico
senhor da sua imagem, de repente
unida às gargalhadas tão ingénuas
das viciosas bocas florescendo
na treva, procurando novas bocas
algures. Cá fora, a verde camioneta
recolhe as sensações de mais um dia
exausto. Recomeço o meu circuito,
arranco e desço mais um pouco, até
à zona antigamente industrial,
aos pálidos felizes contentores
sob a penumbra imensa dos guindastes
quase irreais. Alguns amigos entram
em armazéns de espuma onde exercito
os fúteis bocejantes sentimentos,
a mais falsa alegria, a peregrina
febrícula do espírito embrulhado
em whisky ou nas falas transparentes
de alguém que por acaso eu poderia
talvez amar - «I'm so crazy for you!» -,
mas não há «nunca nada de ninguém»,
só esta bílis negra que me espera
à saída dos últimos lugares
acompanhando agora o rio que alastra
e se mistura à crónica euforia
de uns «tristes bebedores» que mal trauteiam
frágeis franjas de música boiando
no seu vazio que é também o meu
quando parto agarrado a um volante
e na aragem dos vidros entreabertos
saboreio um cigarro que se evola
só para ti, Lisboa. Sempre quis
pulsar ao mesmo ritmo que tu,
transpor este deserto e conseguir
em golfadas de versos libertar
o encarcerado sopro do teu peito -
- cidade atravessada de armadilhas
traindo e atraindo cada gesto
das poucas silhuetas ainda vivas
sob os pilares da ponte. Ó vã Lisboa,
cai sobre mim o peso dos teus sonhos,
«quimera azul» da minha dor sem pátria,
e entre dois semáforos suplico-te:
apaga do meu corpo o sobressalto
dos seres de carne e osso, dessa estranha
realidade apenas virtual
que me despe de todos os fantasmas
e fica projectada no silêncio
das cinco e meia, enquanto vou seguindo
a «correnteza augusta das fachadas»,
as pombalinas rectas, um cortejo
de iluminadas cinzas. Uma estrela
(ou talvez fosse um avião da América?)
parece ter sorrido para mim
como se finalmente esta cidade
me confiasse a rota imperceptível
das suas ondas a perder de vista -
- «marés de fel, como um sinistro mar»,
caudal por onde singro e me despeço
do sangue de quem solta, solitário,
algum suspiro em quarto derradeiro
até ser minha a cor da tua voz,
ó morte a que abandono luz e sombra,
o grito do meu nada ainda em fuga,
mas de súbito em paz entre os teus braços.


in Lisboa com seus poetas. Colectânea de Poesia sobre Lisboa. Organização de Adosinda Providência Torgal e Clotilde Correia Botelho. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2000, pp. 241-244.

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terça-feira, maio 19, 2009

#4 déjà vu

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Déjá vu ici, mais propriamente aqui.
Se não é o mesmo sítio, parece.
Tirei a fotografia na Trafaria, em 2008, e andei a "variar", ou a "avariar", no picnik.

O Alyne diz no post dele que se come bem. Se for o mesmo sítio, come-se bem, sim senhor :o)




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domingo, maio 17, 2009

#3 déjà vu


acrilico s/ papel, 25x18 cm

Deixo aqui tb outra tentativa sobre o tema, baseada numa ideia de Jose Ballester (http://www.distrito4.com/biografia.asp?Galeria=&Id=1#), mas que precisa de ser mais trabalhada. Acho que a ocultação das figuras deverá ter mais impacto em telas muito conhecidas. O desafio nesses casos é a construção nos vazios entretanto formados, que são demasiado grandes ... de qualquer forma é outra boa maneira de estudar os clássicos ;o)

terça-feira, abril 28, 2009

#2 déjà vu


o último imperador, óleo s/papel, 19x7cm

sexta-feira, abril 24, 2009

#1 déjà vu

Um mês depois, como combinado, o Alyne responde ao desafio do Pedro:





«Quando ocorre, foge logo. Não se enquadra em razão nem no apontar do dedo.
A ciência desemboca na aceitação vagorosa. Talvez a antecipação nas artes marciais seja o Déjá Vu induzido e aplicado. Talvez a razão de eu estar em Portugal tenha a ver com o aroma de uma sopa em Angola.
Há os que são fulgurantes como uma flashada de polaroid, mas há-los lentos e insinuantes também. Têm outro nome, então.
Não me lembro do último - tipo relâmpago. Deve estar na sua natureza, esvanecer-se sem rasto.»

in http://pieceofquiet.blogspot.com/2009/04/quando-ocorre-foge-logo.html

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segunda-feira, março 23, 2009

déjà vu

pego em episódios soltos: um filme ontem, o refrescante post do alyne que põe a nu "fragilidades" também nossas e nunca antes confessadas, o uso de trabalhos já feitos, a dificuldade de (re)começar ...

... claro que, tal como o alyne, fica a dúvida se também parto com avanço, numa espécie de batota confortável, uma garantia a priori caso não consiga fazer nada ... porque terei levado tanto tempo a
postar o desafio? terei estado a trabalhar para postar ou a postar para trabalhar? déjà vu explicito ou implícito? já visto ou já pensado? construção neuronal ou coincidência cósmica? o próprio trabalho do alyne é um déjà vu (dele) em camadas temporais que se anulam mutuamente, para formar um acontecimento visual inédito (tb para ele). acho que temos pano para mangas.

resposta colectiva daqui a, digamos, 1 mês?

quinta-feira, março 19, 2009



«Divulgue. Faça o seu próprio cartaz.
Ajude a ajudar e a sensibilizar.

Salientamos também que os cartazes de sensibilização podem focar outros aspectos como:
- esterilização,
- touradas,
- animais nos circos,
- uso de peles,
- produtos testados e não testados em animais,
- etc.

Obrigada a todos pela divulgação, ajuda e colaboração.
Para envio de cartazes e outras dúvidas: wecare4animals@hotmail.com
»

http://wecare4animals.blogspot.com/

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quarta-feira, março 11, 2009

#4

O Alyne do Piece of Quiet respondeu assim ao seu desafio:





«O desafio que tinha lançado saiu-me ao contrário: Numa troca, ainda por explicar a mim próprio, apresentei primeiro o que poderia ser o resultado da questão, e publiquei posteriormente o que deveria ser o ponto de partida com o título 'Apetecer' ( que usa o mesmo gesto, mas transformado). Entalado assim num loop temporal, já não pude responder a minha própria questão, para qual - sonso - já tinha a resposta de antemão.

O desafio transformou-se num monstro à minha frente. Bem feito.

Agora, o que me resta é a mão transmissora do impulso e do seu gesto.
Resta-me elaborar uma holografia artesanal do processo que se situa entre a ideia e o decalque matérico.
Preencher os interstícios irrecuperáveis, porque são eles que acomodam o caos de Lorenz.

O desfecho determina-se na interferência mútua entre o idealizado, a realidade, a representação dessa , e os momentos perdidos na fricção com a matéria.»

in http://pieceofquiet.blogspot.com/2009/03/resposta-ao-desafio.html

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#3


S/ título, acrílico s/ papel, 17,7x25,5cm

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terça-feira, março 10, 2009

#2 riscar é não riscar



linóleo, goiva, rolo, tinta preta, papel e colher de sopa
(gravura em papel, 20x15cm)

domingo, março 08, 2009

#1 a mão do artista



Sem título (a report to an academy), 30x30cm, pasta de madeira, esponja, arame

segunda-feira, março 02, 2009

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

É a vez do Alyne do Piece of Quiet lançar um novo desafio.

Aqui vai o printscreen (clicar na imagem para a aumentar).



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segunda-feira, janeiro 26, 2009

fotografia final



O filme é um fiasco, peço-vos imensa desculpa. Tentei publicar uma versão com maior definição mas o blog esteve toda a manhã a mastigar o upload e nada. Vai aqui uma fotografia que espero tenha um mínimo de definição para se perceber que o trabalho foi a tentativa de construção de uma pirâmide de referências em formato de animação.
Gostei da ideia de fazer uma animação, numa próxima vez tentarei fazer uma coisa que tenha um mínimo de leitura. Já percebi que os desenhos terão que ser maiores e é fundamental usar um tripé para não haver desfasamentos de imagem nas novas adições.

#3

Com muitas faltas: falta de tripé, falta de luz, falta de cuidado na finalização e falta de tempo para corrigir, mas fica a proposta.
Ouvi dizer que temos um convidado a lançar novo tema, vamos ver se corre melhor.
;-)

domingo, janeiro 18, 2009

#2

Still life after all these years



Este desenho é de 1981. E foi uma encomenda.
Pinto há uns aninhos. Mas o desenho, pelo contrário, acompanhou-me desde criança.
Em 1981, já não era criança, já estava crescida. E desenhava tudo o que me aparecia à frente, como se fizesse um catálogo desenhado do meu mundo.
E ganhava dinheirinho com as encomendas, sobretudo retratos. E desta parte já não gostava tanto. Com o tempo, pus em causa todo o desenho que fazia e, a pouco e pouco, fui espaçando estes trabalhos até que, quando entrei na faculdade, em História, já quase não desenhava.
Há uns anos atrás, comecei a pintar.
Hoje em dia já não tenho tantos preconceitos como antigamente. Um retrato ou uma natureza morta fazem tanto sentido nesse "catálogo" desenhado do meu mundo como uma paisagem urbana, à qual invariavelmente retorno. Pelo menos, até agora.


Ao reencontrar este desenho, dei conta de certas características que se mantiveram: a recorrência na composição do 1/3, a cor da grafite que gosto tanto e que me marcou na contenção das cores que uso na pintura e na também recorrência do cinzento.

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#1

Respondendo ao desafio da Cristina, o Alyne do Piece of Quiet fez o post "O que nos moveu..."

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quarta-feira, outubro 29, 2008

novo tema

Tarde e a más horas, aqui vai um novo tema para exercício: a arte e eu.
Podemos ir pela(s) nossa(s) referência(s); por algum trabalho que tenhamos feito e que nos identifique; pelo último trabalho; por algo que nos faça disparar (música, filme, teatro, livro, poema, quadro, fotografia, exposição, autor, projecto arquitectónico, etc); prestar uma homenagem; ir às origens e descobrir o que nos fez entrar no "ramo" ou o que nos fez mudar de "rumo"...
Proponho-vos uma introspecção (o trabalho que daí resulte é talvez o menos importante).

quarta-feira, setembro 24, 2008

#3



Desculpem o amadorismo mas tenho andado a experimentar formatos para conseguir publicar. Fui baixando a qualidade da definição até ser possível, espero não desapontar.

segunda-feira, setembro 22, 2008

#2



"Tribute do Jack Johnson", canetas s/ papel, 16x16cm
(a proposito da influencia do pugilismo em MDavis)

#1






Miles Davis Quintet, Blue in Green
in Kind of Blue, 1959, Columbia Records


(Optei por não seguir o título)


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novo exercício (cont.)



http://olhodebloga.blogspot.com/2008/07/novo-exerccio.html
(seguir o link para ouvir)

Em princípio, a reunião no olhodebloga passa para esta semana :o)

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domingo, julho 27, 2008

Só Serralves

Apanhei o comboio das 7h30 e regressei no das 20h00. Foi um estafanço mas valeu a pena. Queria assistir à conferência do fotógrafo sul africano David Goldblatt e ver os trabalhos que tem expostos em Serralves. Preparem-se para se perderem nas fotografias do senhor. Imagens de uma enorme profundidade, com o mesmo grau de nitidez uma erva em primeiro plano e um arbusto no horizonte. As histórias particulares de desconhecidos que podem ser a história do Apartheid, a história universal da discriminação. Os jogos de encontrar o que motivou aquela fotografia específica ou de perceber qual foi o movimento de câmara que orientou os trípticos. A escolha do papel de algodão em que foram impressas as mais recentes. Damos por nós a procurar o geral que há em cada pormenor. O humor que encerram os títulos.


Não resisti a ver alguns dos videos que estão na villa e nas catacumbas do museu, por baixo da mostra do Manuel de Oliveira. Seleccionei o do Pedro Costa. Não gostei nada das condições acústicas, havia imensa contaminação de sons mas há muita coisa que vale a pena na colecção do museu.

Ontem fui a Serralves



Nha cretcheu, meu amor

O nosso encontro vai tornar a nossa vida mais
bonita por mais trinta anos.
Pela minha parte, torno mais novo e volto
cheio de força.
Eu gostava de te oferecer 100 000 cigarros,
uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa dum vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
Anteontem, no meu aniversário
foi altura de um longo pensamento para ti
A carta que te levaram chegou bem?
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Aprendo umas palavras novas, bonitas, só para nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um
pijama de seda fina. Não queres?
Só posso te chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir estas paredes.
Eu com picareta e cimento.
E tu, com o teu silêncio.
Uma vala tão funda que te empurra para um
longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver.
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como
erva seca.
Às vezes perco as forças e julgo que vou esquecer.


Fontaínhas, 2005, 4'36'', Pedro Costa

sexta-feira, julho 25, 2008

novo exercício


Miles Davis Quintet, Blue in Green
in Kind of Blue, 1959, Columbia Records



reunião no olhodebloga no fim de Agosto, à noite.
em dia a combinar.

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segunda-feira, junho 30, 2008

new wave



ontem fui ver o "circo invisível" à culturgest.
ponham-se na bicha e tentem ir ainda hoje ou amanhã.
há muito tempo que não ficava surpreendido ...
... obrigado pela poesia, pelas surpresas, até no(s) encore(s) ;o)
uma fonte de inspiração para o 2D ...

preciso saber mais coisas desta gente fantástica. vou procurar.

quarta-feira, maio 07, 2008

when things cast no shadow



KW Institute for Contemporary Art. Devia estar muito cansada e não me lembrei de tirar a máquina do estojo(!) por isso não tenho imagens dos trabalhos que me interessaram, mas talvez por algumas descrições fiquem interessados e podem procurar no google.
Katerina Sedá, Over and Over, gostei muito da instalação no KW, achei menos interessante a do Skulpturenpark.

http://www.kopenhagen.dk/index.php?id=13493

Pushwagner, Soft City, banda desenhada de há cerca de 40 anos, em que o papel amareleceu e a tinta correctora não, sobre a uniformização das vidas urbanas.

Ania Molska, W=F*s (work), 2 projecções em ângulo. Numa, o trabalho (camponeses montam a estrutura que ela criou para o Skulpturenpark) e na outra o poder (campo de squash, bolas pintadas de branco em movimento, linhas encarnadas que fazem contraponto com as linhas da estrutura do video ao lado).

Manon de Boer, Two Times 4'33'', projecção com a qual fiquei muito irritada mas que, depois de pensar bastante sobre o assunto, encontrei um sentido crítico afinal coincidente com o meu. Passo a explicar: É uma performance da peça homónima do John Cage, com a imagem fixa do pianista que não toca, limita-se a marcar os andamentos, lá fora o vento sopra, num som coado por vidros duplos, mas a inclemência do vento vê-se através da janela. Estes são os primeiros 4'33''. Os segundos são em completo silêncio, com a câmara a filmar os rostos impassíveis e quase em transe místico da audiência. Esta peça do John Cage é um trabalho histórico que, quanto a mim, não pode ser repetido. As repetições são batotas para os que conhecem a obra e sentem que fazem parte da elite informada. Ou seja, quando (não) foi tocada pela primeira vez, consistia na ampliação dos ruídos da plateia: as tosses secas, o ajeitar na cadeira, os sussurros de incredulidade e, finalmente, a pateada. Serviu para marcar uma posição, tal como a Fonte do Duchamp ou os trabalhos do Joseph Beuys, de quebra de barreiras formais do que se considera arte. Não faz sentido juntarmo-nos numa plateia para ouvir o silêncio, como não faz sentido apreciar num museu as qualidades estéticas do urinol. São peças importantíssimas para a história da arte, para se perceber o que se passa hoje, mas ficamos por aí.

Parece-me que há, hoje em dia, duas tendências opostas no mundo da arte: a primeira, caracterizada por inúmeras visitas guiadas, com explicações tipo pudim Royal em que basta juntar água e ficamos todos a saber tudo o que há a saber, como se (só) valesse tudo o que é passível de explicação; a outra que se fecha em códigos e só é compreendida por aqueles que possuem as referências e se podem continuar a sentir aconchegados no conforto do sentimento de pertença a uma elite (mesmo que não entendamos patavina do que estamos a ver, o melhor é fingir que sim).

Como na Neuegalerie eu tinha achado que era o que se passava - as peças não tinham nenhuma informação, nem o nome do autor, da peça ou sequer um número para podermos deslindar no mapa confuso que nos davam à entrada e que era apenas indicativo da localização e identificação básicas - precipitei-me também na rotulação desta obra. Agora penso que a 2ª parte - a filmagem dos rostos educados e o facto de ninguém se mexer, como estátuas de pedra - era precisamente uma crítica a essa vertente. Isto é capaz de estar confuso mas eu tenho que me ir embora agora. Depois falamos.

terça-feira, maio 06, 2008

memorials


No centro de Bebelplatz, onde se queimaram os livros no auge da fúria nazi, foi construído este memorial, onde se podem ver as estantes vazias dos livros que desapareceram.



Memorial aos judeus europeus assassinados.
Este memorial, situado perto das portas de Brandenburg, foi concebido pelo arquitecto Peter Eisenman, a sua construção terminou em 2005 e inclui um centro de informação sobre as vítimas do holocausto, os locais usados para o extermínio e outros memoriais. Não entrei no centro de informação mas, só por curiosidade, a base de dados tem cerca de 3 milhões de nomes.
Aquela enorme praça repleta de paralelipípedos de betão parece inofensiva e simpática vista de qualquer dos lados, mas a viagem pelo meio dos blocos, quando a luz desaparece, as referências exteriores e o sentido de orientação se perdem, torna-se subitamente sinistra e angustiante.

segunda-feira, maio 05, 2008

vernissage no guggenheim


Foi às 6h00, inauguração da exposição "Freisteller" (termo usado em fotografia e impressão, que significa "libertar" um elemento do seu fundo e introduzi-lo noutra imagem) que reflecte o trabalho de 4 artistas - Dani Gal, Julia Schmidt, Asli Sungu e Clemens von Wedemeyer (deu uma conferência no mês passado no CAM, onde tinha dois videos) - durante os 3 primeiros meses da sua estadia em Villa Romana, Florença, com uma bolsa de 10 meses.
Numa inauguração é sempre difícil apreciar condignamente as peças expostas e isso foi particularmente prejudicial aos trabalhos de Dani Gal, por serem instalações em que a imagem e o som estão separados.
Julia Schmidt recolhe imagens de revistas e internet, escolhe fragmentos que depois transforma em telas.
Os videos da Asli Sungu "Faulty", são de uma enorme frescura: ela é filmada em tarefas caseiras e, em off, a voz de um especialista nessa área vai orientando o seu trabalho, dizendo o que ela está a fazer mal e como deve fazer bem, como seja cortar legumes (cozinheiro), lavar os dentes (especialista em higiene dentária), passar a ferro (técnico de lavandaria), lavar os vidros (técnico de limpeza). Tem a ver com gestão de expectativas, os erros e desapontamentos próprios da tentativa de alcançar essas expectativas, assim como a sua própria sensação permanente de nunca conseguir fazer nada bem.
Clemens von Wedemeyer, com o video "Die Probe" explora a possiblidade de questionarmos tudo mesmo no auge do triunfo com uma sequência que pretende recriar os 5 minutos que medeiam o anúncio de vitória dum presidente dum país não identificado e o seu discurso no comício partidário de celebração. Num loop perfeito, não conseguimos perceber onde começa a história, mas assistimos à dualidade de sentimentos do presidente eleito - entre a euforia da vitória inesperada e o desejo de renunciar - sem sabermos qual a sua decisão final.

O catering do Guggenheim também não era nada de deitar fora e, à noite, ainda tivemos direito a jantar, bebidas e pista de dança no Pan-Am lounge, um último andar com terraço - e uma vista fabulosa - na parte ocidental. Sabemos que estamos na parte ocidental quando os bonecos dos semáforos deixam de ser atarracados e de chapéu (!). Oferta do Deutch Bank, claro.

sexta-feira, maio 02, 2008

Melvin Moti


Esta fotografia miserável não faz justiça ao melhor trabalho - para mim, claro - exposto neste espaço. O trabalho chama-se genericamente E.S.P. (Extra Sensory Perception), é composto por 3 peças e tem a ver com a suspensão do tempo ou interrupção da sua linearidade. O frasco - In the face of forever, we're just getting started - tem dentro uma bola de sabão que o autor afirma ser eterna (terá a ver com as condições de pressão interiores e exteriores e com a pureza do ar dentro do frasco, penso eu.
A fotografia atrás - E.P.S. (K.O. Mortel) - é um momento decisivo na vida do boxeur Sugar Ray Robinson. A história é mais ou menos esta: na véspera de um combate, ele tem um sonho muito vívido em que mata o seu oponente. Tenta por todas as formas cancelar o combate mas não consegue e o seu pesadelo concretiza-se. O adversário entra em coma no ringue e morrerá uns dias depois no hospital. Nessa altura, ele contacta todos os jornalistas que estavam presentes para examinar as fotografias e guarda-as. Esta fotografia é uma delas, em que o adversário está em queda, mas pela expressão do Sugar Ray, percebe-se que ele sabe que esse é o momento em que a sua premonição se torna realidade.
Por trás, passa um video em écran grande (imaginem um zoom a uma bola de sabão a formar-se em slow motion num ambiente escuro e todos os pontos de luz são captados por ela, numa dança hipnotizante). Em voz off, um relato na primeira pessoa. O texto foi adaptado por Moti, de um livro escrito em 1927 (An Experiment with Time) por John William Dunne (1875-1949) um oficial inglês, engenheiro aeronáutico, que, aos 18 anos, descobre que tem dons premonitórios, através de fragmentos do futuro que vai recebendo nos seus sonhos.

5ª bienal de berlim


The Naked City, do Pedro Barateiro, no espaço exterior da Neue Nationalgalerie. Provavelmente vou dizer asneira, vocês sabem que não sou de fiar no que toca a geografia, mas arrisco: a sua contribuição para a bienal consistiu na recriação de 2 estranhas paragens de autocarro que encontrou na suas viagens; uma algures na Rússia e outra no Brasil. Não sei se as paragens estão nos antípodas uma da outra ou se são equidistantes de Berlim, mas há uma relação deste tipo. A 2ª paragem, também feita de aglomerado mas parecendo betão como as originais, encontra-se no Skulpturenpark. Durante a inauguração, as peças foram utilizadas como meeting point para o shuttle que ligava essas duas áreas de mostra.

Este é o aspecto da peça de Paola Pivi (If you like it, thank you. If you don't like it, I am sorry. Enjoy anyway, 2007), logo à entrada da Neue Nationalgalerie; as bandeiras penduradas lá fora são do Daniel Knorr (que já conhecem dos caldos) e representam as cores do poder. São cores relacionadas com associações de estudantes que formam novas combinações. Agora a sério, o Knorr é um artista romeno que representou o seu país, salvo erro, na penúltima bienal de Veneza.

segunda-feira, março 17, 2008

The hills are alive #3 - 2ª fase

Ceci n'est pas un château, carvão s/ papel, 21x29,7cm 


- Look, my liege!


[trumpets]

- Camelot!

- Camelot!

- Camelot!


- It's only a drawing.

___

the hills are alive #2 - 2ª fase



A M0ntanha Mágica, óleo s/papel, 25x30cm/13x15,5cm/12,5x18cm

domingo, março 16, 2008

The hills are alive #1 - 2ª fase

Um mês e meio depois as ideias iniciais não evoluiram. Apenas passei o desenho a acrílico para uma madeira de maior dimensão. Para trás ficou a outra ideia, das montanhas às cores. Conclusões parciais: 1) um mês e meio não chega para alterar ideias; 2) fiquei muito preso à ideia; 3) durante este tempo pensei pouco em pintura ... talvez seja uma mistura das 3.


[acrílico s/ madeira, 32x70 cm]

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

The hills are alive - magic mountain

O romance parece-me uma tecelagem complexa, onde estão presentes temas universais, como a sedução do amor e da morte e a fragilidade humana perante a efemeridade da vida. No sanatório, a doença, para além de levar a uma requalificação da nossa ordem de valores duma forma intemporal, relativamente à época em que foi escrito, simbolizava também a "doença" da sociedade europeia capitalista antes da primeira guerra mundial. Isto é, o sanatório funciona como microcosmos da Europa, revelando os primeiros sintomas da irracionalidade e autismo das sociedades em questão.

Quando se sobe a montanha, o primeiro choque tem a ver com o tempo e forma como é medido, aproveitado, etc. A medida de tempo na montanha torna obsoleto o uso de relógio, porque o confronto com a doença, a inexorabilidade do espaço e a inclemência do clima leva à marcação de outras unidades temporais.

Reflexões sobre a Força e o Direito, a Tirania e a Liberdade, a Superstição e a Ciência, o princípio da conservação e o do movimento, que condicionam o caminho do progresso, são discutidos a par com os impulsos da atracção amorosa, os valores da amizade, a corrupção do corpo e do espírito.

Os óleos que irei postar são apenas marcações laterais de pormenores físicos que acompanham e marcam as reflexões filosóficas dos personagens. Há uma altura em que alguém diz que as pessoas estúpidas devem ser sadias e ordinárias, a "doença deve tornar as criaturas finas, inteligentes e com personalidade."

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

"the hills are alive" #3 - 1ª fase

A fase das ideias.
Ou talvez não.

 

ideia 

 afinal não era.

 

 

                

  

 

      ná.    

 

 

 

 

 

 

ideia,  ideia, ideia, ideia, ideia,  ideia, ideia.

the hills are alive #2

Estou a ler a Montanha Mágica, do Thomas Mann. Vamos ver o que dá.

domingo, fevereiro 03, 2008

"the hills are alive" #1 - 1ª fase

Aqui ficam duas ideias que tentarei trabalhar durante Fevereiro. Vamos ver como evoluem durante 1 mês.



quinta-feira, janeiro 31, 2008

novo exercício

O tema: "the hills are alive"
Em duas etapas:
- até 3 de Fev, publicação da ideia inicial
- até 3 de Março, publicação do trabalho definitivo.
Pretende-se ver a evolução de uma ideia/tema ao longo de 1 mês. Por evolução entenda-se que no trabalho final pode surgir uma continuação, uma retracção ou mesmo uma eliminção da ideia inicial.
Até breve.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Adeus, Eugénio de Andrade #2


óleo s/papel, 32x24 cm

domingo, janeiro 06, 2008

adeus, Eugénio de Andrade #1




uma árvore, uma montanha, uma escada, um barco,
desenham-se.
admitem-se erros, linhas mais pequenas, inclinações mais dramáticas, mas a árvore, a montanha, o barco, estão lá, não perdem identidade.
nos rostos é diferente. uma linha mais curta, um arco mais fechado, desviam-nos da personagem. ao fim de muitos ensaios começam a surgir linhas de memória, o rosto passa a ser familiar, pequenos detalhes que não eram sentidos.
lembro-me de em alguma entrevista ele ter dito que as coisas lhe saíam com muito esforço, depois de muitas emendas, ás vezes horas ou dias à procura da palavra certa ... não encontrei a tal palavra, mas andei lá perto. diferenças ...

quinta-feira, janeiro 03, 2008

The Painting of Modern Life, Hayward Gallery


Woman with Umbrella, Gerhard Richter, 1964, Oil on canvas, 160x95cm

Em 1863 Charles Baudelaire escreveu um ensaio intitulado "The Painter of Modern Life", no qual desafiava os pintores do seu tempo a deixarem os temas da pintura académica e a "agarrarem" as imagens do mundo em mudança, a essência da vida moderna. Cerca de 100 anos depois, diversos artistas - trabalhando em diferentes partes do globo - deixaram a abstracção (que nessa altura já se poderia considerar o novo academismo) para criarem novos tipos de relacionamento com a imagem fotográfica.
A fotografia, até à data usada como auxiliar, passa a ser encarada como objecto autónomo que urgia desmontar e compreender, principalmente no seu papel de instrumento mediático, levantando questões de autoria, originalidade artística e velocidade da imagem. Assim, os artistas em questão não só retrataram o seu mundo como questionaram as suas formas de representação e a maneira como a imagem é usada na construção das memórias (pessoais e colectivas).
A semelhança da tela com a imagem que lhe deu origem, mais do que procurar uma confirmação ou reafirmação, pretende desestabilizar o que nos é familiar e reconhecível, levando-nos a questionar a imagem a outros níveis para além daquele que a originou.
Artistas representados nesta mostra: Andy Warhol, Gerhard Richter, Richard Artschwager, Vija Celmins, Michelangelo Pistoletto, Malcolm Morley, Richard Hamilton, David Hockney, Robert Bechtle, Franz Gertsch, Martin Kippenberger, Luc Tuymans, Marlene Dumas, Peter Doig, Elizabeth Peyton, Liu Xiaodong, Wilhelm Sasnal, Johanna Kandl, Thomas Eggerer, Johannes Kahrs, Judith Eisler, Eberhard Havekost.

terça-feira, dezembro 18, 2007

novo exercício

Adeus, Eugénio de Andrade

Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos
ou, se preferes, a minha boca nos teus olhos,
carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve, e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.

Como se a noite viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde o teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens,
e sobre as nuvens mar perfeito
ou, se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.


Marquem vocês a data limite para publicarmos. Princípio do ano? Entretanto vou falar duma exposição, "Painting of Modern Life" que é capaz de suscitar alguma discussão, vamos ver.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

teatro em Londres




Cá vai, Luísa, como pediste. Algumas coisas já falámos ao vivo, mas passa adiante. Foi a primeira vez que a Joana foi a Londres mas parece-me que esta viagem a deixou tentada a fazer uma pós-graduação por lá. Fizemos o trabalho de casa em Lisboa, consultando as críticas e as sinopses das peças em cartaz. Muito difícil arranjar bilhetes para o teatro, quando tentámos comprar online estava tudo esgotado. Uns amigos nossos conseguiram-nos bilhetes para a peça do David Mamet para sábado. Na 5ª feira, depois de deixarmos as coisas no hotel, fomos tentar a nossa sorte para o Almeida Theatre, umas horas antes de começar, tentando apanhar as migalhas das desistências. A nossa fé foi compensada - e de que maneira - com um espectáculo excelente. Como vos disse, foi uma bolha de oportunidade porque, sendo uma peça experimental, os riscos de alguma coisa correr mal são elevados, ou seja, é muito possível que, noutra oportunidade, com outros actores, ou uma encenação diferente, a coisa corra verdadeiramente mal e o texto não resista. Acabou por correr tudo de feição, até o facto de termos umas horas para queimar deu para comprarmos o livro e ficar a ler no bar do teatro. O guião é muito interessante, faz uma abordagem da evolução da vivência sexual entre a época vitoriana - retratada no primeiro acto por um millitar inglês, a sua família e relações numa colónia - e a libertação dos anos 70 (não tão completa como aparentava ser), transportando a mesma família como se, para eles, tivessem passado apenas 25 anos.

A peça do David Mamet (conhecemo-lo melhor de filmes como O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, O Veredicto ou Os Intocáveis, entre outros), também muitíssimo bem representada e encenada foi particularmente boa. Esta peça acho que também já foi guião de filme com o Al Pacino (tenho que ver se consigo encontrar e alugar). A profissão de vendedor foi criada e desenvolvida nos EUA, fazendo parte integrante do American Dream e sendo paradigmática da sociedade de consumo (sabiam que em 2000 os vendedores constituíam 12% do total de trabalhadores nos EUA?). David Mamet retira à classe todo o glamour que possa ter e dá-nos o retrato dum campo de guerra implacável. São ensinadas técnicas aos vendedores, tornando-os predadores sem escrúpulos, numa peça em que ninguém é poupado. Os vendedores porque não têm qualquer espécie de escrúpulos de enganar velhos, explorar inseguranças alheias e enganar os colegas para conseguirem os apetitosos prémios de vendas; os responsáveis pelas forças de vendas porque não hesitam em espicaçar o espírito competitivo, criando situações insustentáveis aos que começam a esgotar o seu campo de acção e se tornam menos eficazes nas vendas, obrigando-os a eleger novos target groups mais permeáveis e indefesos; os consumidores porque revela uma ganância inata que os faz embarcar em negócios dourados que se revelam verdadeiramente ruinosos, tornando-se alvos fáceis.

Esta foi a parte teatral. Mais adiante falarei das exposições.