quarta-feira, maio 07, 2008

when things cast no shadow



KW Institute for Contemporary Art. Devia estar muito cansada e não me lembrei de tirar a máquina do estojo(!) por isso não tenho imagens dos trabalhos que me interessaram, mas talvez por algumas descrições fiquem interessados e podem procurar no google.
Katerina Sedá, Over and Over, gostei muito da instalação no KW, achei menos interessante a do Skulpturenpark.

http://www.kopenhagen.dk/index.php?id=13493

Pushwagner, Soft City, banda desenhada de há cerca de 40 anos, em que o papel amareleceu e a tinta correctora não, sobre a uniformização das vidas urbanas.

Ania Molska, W=F*s (work), 2 projecções em ângulo. Numa, o trabalho (camponeses montam a estrutura que ela criou para o Skulpturenpark) e na outra o poder (campo de squash, bolas pintadas de branco em movimento, linhas encarnadas que fazem contraponto com as linhas da estrutura do video ao lado).

Manon de Boer, Two Times 4'33'', projecção com a qual fiquei muito irritada mas que, depois de pensar bastante sobre o assunto, encontrei um sentido crítico afinal coincidente com o meu. Passo a explicar: É uma performance da peça homónima do John Cage, com a imagem fixa do pianista que não toca, limita-se a marcar os andamentos, lá fora o vento sopra, num som coado por vidros duplos, mas a inclemência do vento vê-se através da janela. Estes são os primeiros 4'33''. Os segundos são em completo silêncio, com a câmara a filmar os rostos impassíveis e quase em transe místico da audiência. Esta peça do John Cage é um trabalho histórico que, quanto a mim, não pode ser repetido. As repetições são batotas para os que conhecem a obra e sentem que fazem parte da elite informada. Ou seja, quando (não) foi tocada pela primeira vez, consistia na ampliação dos ruídos da plateia: as tosses secas, o ajeitar na cadeira, os sussurros de incredulidade e, finalmente, a pateada. Serviu para marcar uma posição, tal como a Fonte do Duchamp ou os trabalhos do Joseph Beuys, de quebra de barreiras formais do que se considera arte. Não faz sentido juntarmo-nos numa plateia para ouvir o silêncio, como não faz sentido apreciar num museu as qualidades estéticas do urinol. São peças importantíssimas para a história da arte, para se perceber o que se passa hoje, mas ficamos por aí.

Parece-me que há, hoje em dia, duas tendências opostas no mundo da arte: a primeira, caracterizada por inúmeras visitas guiadas, com explicações tipo pudim Royal em que basta juntar água e ficamos todos a saber tudo o que há a saber, como se (só) valesse tudo o que é passível de explicação; a outra que se fecha em códigos e só é compreendida por aqueles que possuem as referências e se podem continuar a sentir aconchegados no conforto do sentimento de pertença a uma elite (mesmo que não entendamos patavina do que estamos a ver, o melhor é fingir que sim).

Como na Neuegalerie eu tinha achado que era o que se passava - as peças não tinham nenhuma informação, nem o nome do autor, da peça ou sequer um número para podermos deslindar no mapa confuso que nos davam à entrada e que era apenas indicativo da localização e identificação básicas - precipitei-me também na rotulação desta obra. Agora penso que a 2ª parte - a filmagem dos rostos educados e o facto de ninguém se mexer, como estátuas de pedra - era precisamente uma crítica a essa vertente. Isto é capaz de estar confuso mas eu tenho que me ir embora agora. Depois falamos.

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