Ontem fui a Serralves
Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro vai tornar a nossa vida mais
bonita por mais trinta anos.
Pela minha parte, torno mais novo e volto
cheio de força.
Eu gostava de te oferecer 100 000 cigarros,
uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa dum vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
Anteontem, no meu aniversário
foi altura de um longo pensamento para ti
A carta que te levaram chegou bem?
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Aprendo umas palavras novas, bonitas, só para nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um
pijama de seda fina. Não queres?
Só posso te chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir estas paredes.
Eu com picareta e cimento.
E tu, com o teu silêncio.
Uma vala tão funda que te empurra para um
longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver.
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como
erva seca.
Às vezes perco as forças e julgo que vou esquecer.
Fontaínhas, 2005, 4'36'', Pedro Costa
1 comentário:
lindissimo!
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