sexta-feira, junho 08, 2007

Parece que ninguém vai em "modernices"


"Como estragar um Piet Mondrian", acrílico s/tela, 80x100cm

Parece que ninguém quer escrever sobre o modernismo. Experimentemos então outro tema. Alguém tem opinião formada relativamente a recriações artísticas? Pegar numa obra de outro autor e intervir sobre ela será falta de imaginação, oportunismo ou abertura de espírito? Será um acto de coragem ou, pelo contrário, um topete de todo o tamanho?

7 comentários:

Luísa R. disse...

«Pegar numa obra de outro autor e intervir sobre ela (...)»

Acho que é um caminho como outro qualquer.
O resultado pode ser bom ou mau.

No caso desta tela, gostei bastante.
Está bastante divertido :o)

pedro disse...

bolas, que já uma pessoa não pode estudar ... se tivesses dado um prazo eu tinha comentado o modernismo na véspera, à boa maneira tuga. Mas ainda vou lá por qq coisa.
Quanto à tua proposta, concordo com a luisa, e há inumeros exemplos por essa historia da arte moderna fora, algumas relacionadas com o modernismo. claro que só conhecemos as boas. Estou a lembrar-me do estudo do papa inocêncio de velazquez pelo bacon, p ex. Agora, se queres realmente algo perto do topete, mas ao mesmo tempo longe disso, lê o ensaio do nadir afonso sobre o van gogh ... quanto à tua tela, não podias ter escolhido melhor contraste para o clássico pano azul bébé que um mondrian, de cores planas e (qse) básicas em geometrias rectangulares. o contraste perturba e inquieta, mexe comigo porque remete para a barbárie, os tags em monumentos, a destruição de obras por ignorância, ideologia ou religião. Não sei se era esta a tua intenção e, como te conheço um bocadinho, acho que não ... por isso, parabéns!!! :o)

cristina disse...

O exercício que me propus foi o de intervir numa tela abstracta introduzindo um elemento surpresa que fosse desconcertante. Acabei por escolher o Mondrian porque a sua procura do equilíbrio perfeito era desafiante; como mexer no equilíbrio perfeito sem estragar tudo? O exercício acabou por se tornar divertidíssimo e extremamente absorvente, criando novos desafios à medida que avançava e estabelecendo paralelos com a vida tal como aconteceu com o autor. Ou seja, eu não podia intervir apenas no resultado plástico da obra, tinha que ter em conta o conceito.
Ora o conceito, como sabemos, era falar da vida na sua expressão mais simples: a sua constituição por forças contrárias (linhas pretas) e estados de espírito (planos de cor) na procura do equilíbrio supremo.
Decidi pendurar um pano - tal como acontece no nosso quotidiano, quando achamos que temos tudo mais ou menos equilibrado, vem alguém e pumba, pendura-nos qualquer coisa que põe em risco essa frágil estrutura.
Depois começam os problemas práticos: como voltar a equilibrar a tela com um objecto estruturalmente tão diferente? Esta era uma das questões plásticas, outra, muito importante, era o problema de decidir se os planos são abertos ou fechados.
Enquanto tentava resolver estas dificuldades, ia fazendo o tal paralelo e pensando que realmente, mesmo que tentemos antecipar todos os "ataques" à estrutura que oleamos diariamente, há sempre algo que nos apanha de surpresa e nos obriga a inventar um plano B.
Se repararem, mantive a ambiguidade do plano onde pendurei o pano: em cima - onde entra o gancho - é aberto e em baixo - onde se projecta a sombra, é fechado.
Conclusão: nunca podemos descansar, a vida exige uma recriação constante.
O título da tela é "E ≠ MC2" e está no hospital de Sta. Maria (o título seguiu o mesmo raciocínio: alguém - neste caso João Magueijo,um jovem cientista português - ousou pôr em causa a fórmula mais conhecida do mundo e, apenas com um tracinho oblíquo sobre um sinal de igual, desestabilizou-se um dos ícones dos nossos tempos)

pedro disse...

acho o titulo e a sua explicação uma mais valia para a tela ... simples, inteligente e surpreendente. Não percebi bem o q queres dizer com planos abertos e fechados, podes explicar?
Outro aspecto interessante foi a tua opção em não acabar as linhas nos limites da tela, o que é tb uma alteração ao mondrian ... só explicas se quisers ;o)

cristina disse...

Quero dizer que a grelha preta divide a tela em planos e cada um desses planos pode ser vazio (uma janela aberta para um fundo que está para além do fundo da tela) ou cheio, sólido (e terminar na superfície da tela). Quando eu ponho um gancho pendurado numa barra preta, isso pressupõe que o rectângulo branco sobre o qual repousa o pano é aberto, vazio; mas, mais abaixo, quando o pano projecta uma sombra sobre esse mesmo rectângulo, estou a dizer que a sua superfície coincide com a superfície da tela e é, pois, um plano fechado. Confuso? Pois.
Relativamente à decisão de prolongar as linhas até ao limite da tela, Mondrian fez opções diferentes nos diversos quadros desta fase. Porém, é curioso verificar que nós só reparamos nisso se tivermos que fazer uma opção semelhante, porque a leitura do espectador é sempre essa que fizeste: o nosso cérebro leva as linhas pretas até ao fim.

dismore disse...

A ideia do quadro está excelente! Apesar da tua explicação tão séria e extremamente interessante, cativa-me particularmente o sentido de humor que o trabalho transmite. Adorei!

Anónimo disse...

Gostei muito, mais uma vez. Gosto desse toque do insólito. O piscar o olho ao observador. Mais difícil, é depois conseguir o equilíbrio. Um exercício muito interessante.