Estou agora a perceber a tua reacção ao Almoço do Trolha, do Júlio Pomar... Queres que não esqueçamos que por trás do bucolismo dum campo de trigo há sempre um trabalhador agrícola explorado (neste caso é pela frente mesmo). Gostei muito das cores, do ritmo conferido pelos montes de feno ao fundo, da luz matinal.
A mim, lembrou-me o "Angelus" do Millet. Por várias razões, entre as quais, a origem da luz.
Mas, neste caso, um "Angelus" sem "Angelus"... Se é que se pode dizer assim... Aqui, neste trabalho do Pedro, não há nada de espiritual. O homem não está recolhido em prece. Está numa atitude recolhida pelo peso do fardo, do trabalho, da terra, da vida. Aqui, não há nada de transcendente. Há o visível, o insustentável peso.
A Cristina viu aqui uma luz matinal. Eu vejo uma luz crepuscular de pôr do sol. (Como a hora do Angelus pode ser às 6h da manhã, ao meio-dia e às 6h da tarde, gosto de pensar na cena do quadro do Millet, às 6h da tarde. Por associação, pelo mesmo tipo de luz, também pensei assim, no exercício do Pedro: o campo atrás do homem está trabalhado e o cansaço do homem, levam-me a pensar que será no fim de um dia de trabalho)
Na escola, ensinaram-nos que não é muito correcto marcar a linha do horizonte como o Pedro marcou neste trabalho. E assim notei logo que vi o exercício. No entanto, neste caso específico, depois de ver mais atentamente, sinto que faz todo o sentido aqui. Fica a impressão de que o homem carrega o peso do campo aos seus ombros e o traz consigo como um manto. Posso estar errada nesta minha apreciação. Mas estou aqui para aprender. O que é que vocês acham?
Quanto à cor... já sabes que gosto muito. Como sempre :O)
O trabalho executado pelo agricultor não foi feito num só dia, façamos-lhe essa justiça. De facto, a projecção das sombras indica que o sol está inclinado; eu acho que se trata do amanhecer porque a luz parece-me demasiado branca e crua para o pôr do sol. O homem não me parece cansado de um dia de trabalho, antes apresenta a postura curvada tão característica da vida do campo pois reflecte uma luta diária, sem férias e uma enorme dependência de factores incontroláveis, de que o estado do tempo é apenas um exemplo.
Tem graça lembrares Millet, embora me pareça ter ainda mais referências a um outro quadro dele, Les Glaneuses (talvez pela cor, será?).
Explica lá melhor a incorrecção da linha do horizonte, porque devo ter faltado a essa aula.
foi efectivamente inspirado no angelus e a luz tentei que fosse ao entardecer. como podem ver no themumblingbrush, ao contrário do neo-realismo, a história é precisamente a contrária, ou seja, o tipo é um agricultor que para já decidiu enveredar pelos ogm, e a sua visita ao campo é só mesmo ao fim do dia, qdo vem do escritório, para sacar uns raminhos de coentros para a sopa. Enfim, tentei mas deu o resultado (interpretação) contrário de ambas.
quanto á linha de horizonte: eu reparei nisso qdo me vi a braços com a definição de volume do ombro esquerdo, mas era tarde, e os pastéis não perdoam enganos, menos que as aguarelas, mas tb não perdoam.
A linha do horizonte "corta" a cabeça do senhor que leva uns raminhos de coentros.
Digamos que a linha do horizonte poderia subir ou descer um pouco, para não passar pelo pescoçinho :O)
Mas, como disse no comentário anterior, «neste caso específico, depois de ver mais atentamente, sinto que faz todo o sentido aqui. Fica a impressão de que o homem carrega o peso do campo aos seus ombros e o traz consigo como um manto. Posso estar errada nesta minha apreciação. Mas estou aqui para aprender. O que é que vocês acham?»
Repito que posso estar errada e, por isso, gostaria de saber o que pensam.
Por exemplo, em "Le Repos", de 1870, do Monet - - o limite superior do sofá não "separa" o corpo em duas partes (cabeça e tronco); - o limite inferior do sofá não coincide com o limite do vestido; - o limite inferior do quadro na parede acaba ligeiramente mais abaixo da cabeça da senhora.
Pedro, talvez possas explicar muito melhor que eu.
(a fotografia do quadro está tão mazinha quanto a minha explicação, desculpem)
Agora sim, percebi. A questão é que estavas a falar de linhas tangenciais e eu achei que estavas a falar de linhas de horizonte. As regras existem e devem estar presentes para termos consciência de quando as estamos a infringir. Não acho que a sua aplicação faça sentido aqui e não me parece que tenha influência na definição dos ombros. O corte confere-lhe uma intenção - mesmo que tenha sido inconsciente - que dá força à composição. A interpretação do manto, de canga, corda ao pescoço, de fio da navalha, vai muito bem com a vida de um agricultor. Independentemente da intenção conceptual e passando à composição, o Alex Katz, por exemplo, usa muito as linhas tangenciais. Quanto à luz, continuo a achar que é demasiado branca para ser de final de dia, sorry.
A propósito do trabalho do Pedro, mencionei a linha do horizonte, Cristina, sim. Achaste bem.
Quanto à intenção, só o Pedro poderá falar.
Refiro-me ao resultado final e como eu o vi. Gostei desse corte que me fez ver um manto, um arrastamento e um peso aos ombros do homem.
No entanto, continuo sem ter a certeza se neste caso específico, resultaria melhor descer ou subir a linha do horizonte (essa é a minha dúvida).
Quanto às regras... Quando referi, no meu 1º comentário, que nos ensinaram «que não é muito correcto marcar a linha do horizonte como o Pedro marcou neste trabalho», tratava-se de um problema semelhante num exercício sobre o qual o professor chamou a atenção nesse caso específico. Depois de seguido o conselho, o resultado final melhorou bastante. Só isso. Mas ninguém mencionou regras académicas.
a localização da linha de horizonte surgiu por acaso. mandei-vos por mail 2 ensaios em PShop com a linha abaixo e acima da original. vendo as 3 versões, acho que o acaso funcionou ... mas tb gosto da solução com a linha subida ...
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11 comentários:
Estou agora a perceber a tua reacção ao Almoço do Trolha, do Júlio Pomar...
Queres que não esqueçamos que por trás do bucolismo dum campo de trigo há sempre um trabalhador agrícola explorado (neste caso é pela frente mesmo).
Gostei muito das cores, do ritmo conferido pelos montes de feno ao fundo, da luz matinal.
A mim, lembrou-me o "Angelus" do Millet.
Por várias razões, entre as quais, a origem da luz.
Mas, neste caso, um "Angelus" sem "Angelus"...
Se é que se pode dizer assim...
Aqui, neste trabalho do Pedro, não há nada de espiritual.
O homem não está recolhido em prece.
Está numa atitude recolhida pelo peso do fardo, do trabalho, da terra, da vida.
Aqui, não há nada de transcendente.
Há o visível, o insustentável peso.
A Cristina viu aqui uma luz matinal.
Eu vejo uma luz crepuscular de pôr do sol.
(Como a hora do Angelus pode ser às 6h da manhã, ao meio-dia e às 6h da tarde, gosto de pensar na cena do quadro do Millet, às 6h da tarde. Por associação, pelo mesmo tipo de luz, também pensei assim, no exercício do Pedro: o campo atrás do homem está trabalhado e o cansaço do homem, levam-me a pensar que será no fim de um dia de trabalho)
Na escola, ensinaram-nos que não é muito correcto marcar a linha do horizonte como o Pedro marcou neste trabalho.
E assim notei logo que vi o exercício.
No entanto, neste caso específico, depois de ver mais atentamente, sinto que faz todo o sentido aqui.
Fica a impressão de que o homem carrega o peso do campo aos seus ombros e o traz consigo como um manto.
Posso estar errada nesta minha apreciação. Mas estou aqui para aprender.
O que é que vocês acham?
Quanto à cor... já sabes que gosto muito. Como sempre :O)
O trabalho executado pelo agricultor não foi feito num só dia, façamos-lhe essa justiça. De facto, a projecção das sombras indica que o sol está inclinado; eu acho que se trata do amanhecer porque a luz parece-me demasiado branca e crua para o pôr do sol. O homem não me parece cansado de um dia de trabalho, antes apresenta a postura curvada tão característica da vida do campo pois reflecte uma luta diária, sem férias e uma enorme dependência de factores incontroláveis, de que o estado do tempo é apenas um exemplo.
Tem graça lembrares Millet, embora me pareça ter ainda mais referências a um outro quadro dele, Les Glaneuses (talvez pela cor, será?).
Explica lá melhor a incorrecção da linha do horizonte, porque devo ter faltado a essa aula.
foi efectivamente inspirado no angelus e a luz tentei que fosse ao entardecer. como podem ver no themumblingbrush, ao contrário do neo-realismo, a história é precisamente a contrária, ou seja, o tipo é um agricultor que para já decidiu enveredar pelos ogm, e a sua visita ao campo é só mesmo ao fim do dia, qdo vem do escritório, para sacar uns raminhos de coentros para a sopa. Enfim, tentei mas deu o resultado (interpretação) contrário de ambas.
quanto á linha de horizonte: eu reparei nisso qdo me vi a braços com a definição de volume do ombro esquerdo, mas era tarde, e os pastéis não perdoam enganos, menos que as aguarelas, mas tb não perdoam.
Cristina,
Les Glaneuses? Sim, também poderia ser :o)
Quanto à linha do horizonte, o Pedro acabou por explicar melhor que eu.
Pedro,
Ah bom!
Não tinha percebido que o senhor levava debaixo do braço uns raminhos de coentros.
Sim, agora faz todo o sentido :O)
Expliquem lá melhor, como se eu tivesse 8 anos porque continuo sem perceber a linha do horizonte e a dificuldade no ombro esquerdo...
A linha do horizonte "corta" a cabeça do senhor que leva uns raminhos de coentros.
Digamos que a linha do horizonte poderia subir ou descer um pouco, para não passar pelo pescoçinho :O)
Mas, como disse no comentário anterior, «neste caso específico, depois de ver mais atentamente, sinto que faz todo o sentido aqui.
Fica a impressão de que o homem carrega o peso do campo aos seus ombros e o traz consigo como um manto.
Posso estar errada nesta minha apreciação. Mas estou aqui para aprender.
O que é que vocês acham?»
Repito que posso estar errada e, por isso, gostaria de saber o que pensam.
Por exemplo, em "Le Repos", de 1870, do Monet -
- o limite superior do sofá não "separa" o corpo em duas partes (cabeça e tronco);
- o limite inferior do sofá não coincide com o limite do vestido;
- o limite inferior do quadro na parede acaba ligeiramente mais abaixo da cabeça da senhora.
Pedro, talvez possas explicar muito melhor que eu.
(a fotografia do quadro está tão mazinha quanto a minha explicação, desculpem)
Agora sim, percebi. A questão é que estavas a falar de linhas tangenciais e eu achei que estavas a falar de linhas de horizonte.
As regras existem e devem estar presentes para termos consciência de quando as estamos a infringir. Não acho que a sua aplicação faça sentido aqui e não me parece que tenha influência na definição dos ombros. O corte confere-lhe uma intenção - mesmo que tenha sido inconsciente - que dá força à composição. A interpretação do manto, de canga, corda ao pescoço, de fio da navalha, vai muito bem com a vida de um agricultor.
Independentemente da intenção conceptual e passando à composição, o Alex Katz, por exemplo, usa muito as linhas tangenciais.
Quanto à luz, continuo a achar que é demasiado branca para ser de final de dia, sorry.
A propósito do trabalho do Pedro, mencionei a linha do horizonte, Cristina, sim.
Achaste bem.
Quanto à intenção, só o Pedro poderá falar.
Refiro-me ao resultado final e como eu o vi.
Gostei desse corte que me fez ver um manto, um arrastamento e um peso aos ombros do homem.
No entanto, continuo sem ter a certeza se neste caso específico, resultaria melhor descer ou subir a linha do horizonte (essa é a minha dúvida).
Quanto às regras...
Quando referi, no meu 1º comentário, que nos ensinaram «que não é muito correcto marcar a linha do horizonte como o Pedro marcou neste trabalho», tratava-se de um problema semelhante num exercício sobre o qual o professor chamou a atenção nesse caso específico. Depois de seguido o conselho, o resultado final melhorou bastante.
Só isso.
Mas ninguém mencionou regras académicas.
O Alex Katz usa muito as linhas tangenciais, sim.
a localização da linha de horizonte surgiu por acaso. mandei-vos por mail 2 ensaios em PShop com a linha abaixo e acima da original. vendo as 3 versões, acho que o acaso funcionou ... mas tb gosto da solução com a linha subida ...
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