segunda-feira, dezembro 17, 2007

teatro em Londres




Cá vai, Luísa, como pediste. Algumas coisas já falámos ao vivo, mas passa adiante. Foi a primeira vez que a Joana foi a Londres mas parece-me que esta viagem a deixou tentada a fazer uma pós-graduação por lá. Fizemos o trabalho de casa em Lisboa, consultando as críticas e as sinopses das peças em cartaz. Muito difícil arranjar bilhetes para o teatro, quando tentámos comprar online estava tudo esgotado. Uns amigos nossos conseguiram-nos bilhetes para a peça do David Mamet para sábado. Na 5ª feira, depois de deixarmos as coisas no hotel, fomos tentar a nossa sorte para o Almeida Theatre, umas horas antes de começar, tentando apanhar as migalhas das desistências. A nossa fé foi compensada - e de que maneira - com um espectáculo excelente. Como vos disse, foi uma bolha de oportunidade porque, sendo uma peça experimental, os riscos de alguma coisa correr mal são elevados, ou seja, é muito possível que, noutra oportunidade, com outros actores, ou uma encenação diferente, a coisa corra verdadeiramente mal e o texto não resista. Acabou por correr tudo de feição, até o facto de termos umas horas para queimar deu para comprarmos o livro e ficar a ler no bar do teatro. O guião é muito interessante, faz uma abordagem da evolução da vivência sexual entre a época vitoriana - retratada no primeiro acto por um millitar inglês, a sua família e relações numa colónia - e a libertação dos anos 70 (não tão completa como aparentava ser), transportando a mesma família como se, para eles, tivessem passado apenas 25 anos.

A peça do David Mamet (conhecemo-lo melhor de filmes como O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, O Veredicto ou Os Intocáveis, entre outros), também muitíssimo bem representada e encenada foi particularmente boa. Esta peça acho que também já foi guião de filme com o Al Pacino (tenho que ver se consigo encontrar e alugar). A profissão de vendedor foi criada e desenvolvida nos EUA, fazendo parte integrante do American Dream e sendo paradigmática da sociedade de consumo (sabiam que em 2000 os vendedores constituíam 12% do total de trabalhadores nos EUA?). David Mamet retira à classe todo o glamour que possa ter e dá-nos o retrato dum campo de guerra implacável. São ensinadas técnicas aos vendedores, tornando-os predadores sem escrúpulos, numa peça em que ninguém é poupado. Os vendedores porque não têm qualquer espécie de escrúpulos de enganar velhos, explorar inseguranças alheias e enganar os colegas para conseguirem os apetitosos prémios de vendas; os responsáveis pelas forças de vendas porque não hesitam em espicaçar o espírito competitivo, criando situações insustentáveis aos que começam a esgotar o seu campo de acção e se tornam menos eficazes nas vendas, obrigando-os a eleger novos target groups mais permeáveis e indefesos; os consumidores porque revela uma ganância inata que os faz embarcar em negócios dourados que se revelam verdadeiramente ruinosos, tornando-se alvos fáceis.

Esta foi a parte teatral. Mais adiante falarei das exposições.

1 comentário:

Luísa R. disse...

Obrigada, Cristina.

Fico então à espera dos vossos comentários acerca das exposições.

Bjs